Instalada em 22 de março do ano passado, sob a presidência do deputado João Salame (PPS), a CPI que investiga o tráfico de pessoas – chamada de CPI do Tráfico Humano – ouviu na quinta-feira passada (8), mães de adolescentes enganados por um estelionatário que se passou por empresário de futebol. A imprensa inclusive divulgou o caso.
Trata-se de Luis Carlos Rodrigues Pinto – ele usava o nome fictício de Juan – que dizia ser descobridor de jogadores de futebol. Dona Nelita Lima, mãe de um jovem de 15 anos, Caio, disse aos deputados João Salame; Carlos Bordalo (PT), relator; e Edmilson Rodrigues (PSOL), membro, que Juan cobrou dela uma taxa de R$ 13,00.
E também prometeu levar o jovem para o Rio de Janeiro, onde treinaria no Fluminense. Depois assinaria um contrato. O mesmo foi prometido a dona Maria Antonia Gomes, mãe de Ademir, 18. Ela também pagou R$ 13 ao pseudo-empresário. Outra convidada à audiência foi Joana Alves, mãe de Odir, 15 anos.
Foi citado, por uma das mães, que numa ocasião Juan estava acompanhado do jogador Robinho, do Paysandu Esporte Clube. Eles foram observar uma partida de futebol no campo do Vila Rica, clube da Cidade Nova, em Ananindeua. Há ainda outros envolvidos “nessa rede de estelionatários”, como definiu Carlos Bordalo, entre eles um homem de prenome Sérgio – e outro apelidado de “Ventania”.
A comissão deve ouvir oficialmente um representante da Prefeitura de Ananindeua. Dois jovens afirmaram que o estelionatário (Juan deve ter cerca de 50 anos) chegou a lhes assediar sexualmente.
“Quando meu marido o viu”, disse dona Nelita, “me disse: esse cara parece uma bichona”. Bordalo pediu a elas que trouxessem mais informações sobre o acusado, que está foragido. Jovens de Paragominas igualmente foram ludibriados.
João Salame Neto disse que irá acionar a bancada paraense no Congresso Nacional para que seja criada uma lei disciplinando esse segmento – as escolinhas de futebol – assim como os agenciadores, conhecidos por olheiros, porque alguns picaretas (Juan é um exemplo) se infiltram entre os jovens tanto para extorquir dinheiro como para os assediar sexualmente.
Os parlamentares trabalham com a hipótese de existir um grupo organizado atuando nesse tipo de crime. A polícia civil abriu inquérito, presidido pela delegada Elizeth Cardoso. A comissão esteve, em 2011, em São Vicente (SP), onde encontrou 12 adolescentes aqui do Pará abandonados, após serem enganados por outro falso agenciador de futebol.
Situação preocupante acontece em Barcarena, Baixo Tocantins. Mulheres, a maioria delas prostitutas e até menores de idade, fazem programas com tripulantes de navios fundeados no porto de Vila do Conde. Em alguns casos elas engravidam e são levadas para a Ásia (Hong Kong, Malásia, Filipinas, Cingapura, etc.).
Depois delas terem os filhos voltam para Barcarena, sem os bebês. Uma prostituta, inclusive, chegou a ter 6 filhos e todos ficaram naquele continente. Essa mulher, na última gestação, teve a barriga cortada (ela está com uma cicatriz provocada por uma cirurgia) e há suspeita de que lhe tenham tirado algum órgão, mais provavelmente um rim.
Na Rua Santarém (na Vila do Conde), como constatou a CPI, existem vários prostíbulos de propriedade de um holandês. Este seria o principal articulador da prostituição. Constatou-se também existir um grupo de mulheres chamado “Gangue das Bonequinhas” – elas têm o braço tatuado com uma bonequinha – e são especializadas em pequenos furtos.
A embarcação que conduz as mulheres até os navios é de propriedade de um ex-vereador do município, com preço da passagem custando R$ 5. A polícia civil investiga as denúncias. Essa embarcação é conhecida pelos moradores locais por transputa. Em 1996 uma jovem de 17 anos acabou assassinada depois de fazer um programa com um marinheiro filipino. Ela teria sido estrangulada e jogada nas águas da baía.
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