Líder do PPS na Assembléia Legislativa do Pará (Alepa), o deputado João Salame Neto, também presidente da Frente Pró-Carajás, tem enfrentado verdadeiras maratonas para se desincumbir, de forma satisfatória, das missões que lhes são impostas pelas funções que ocupa.
A Frente Pró-Carajás, integradas por vários parlamentares, defende a criação do Estado de Carajás, a partir das regiões sul e sudeste do atual território paraense. O Plebiscito – em latim Plebiscitu, era o mesmo que Decreto do Povo reunido em comício, na Roma antiga; modernamente, significa resolução submetida à apreciação do povo, voto por voto, SIM ou NÃO, sobre uma proposta que lhe seja apresentado.
No caso dos novos Estados (proposta também inclui Tapajós) – ocorrerá a 11 de dezembro próximo, razão pela qual João Salame tem que se desdobrar para divulgar as razões pelas quais lideranças políticas de Marabá e regiões querem o Estado de Carajás.
"Precisamos mais da presença do Estado, para combater o latifúndio, o crime de pistolagem, a precariedade no atendimento á saúde, à educação, aos transportes, enfim, para darmos mais qualidade devida à população que vive e trabalha no sul e sudeste do atual estado do Pará" disse João Salame, nesta quarta-feira à noite, na FAP – Faculdade do Pará – onde fez uma palestra para mais de cem alunos e professores da instituição.
A resposta do parlamentar foi uma reação à provocação de uma ouvinte, claramente defensora da manutenção do território atual do Pará, por achar, segundo ela mesma afirmou, que novos estados, só vão onerar a União e favorecer pessoalmente os parlamentares que defendem a redivisão do Estado.
A palestra na FAP foi o ápice de uma super-quarta-feira vivida pelo deputado. Pela manhã, ele participou, na Alepa, das discussões em torno de um projeto acerca da pedofilia e da violência contra crianças, no Pará. Na véspera, João Salame havia apresentado moção à Mesa Diretora, propondo a articulação entre as Secretarias de Estado de Educação (Seduc) e Saúde (Sespa) no desenvolvimento de estratégias voltadas ao combate à pedofilia, com a programação de palestras e atividades afins. O objetivo da proposta é a inclusão no calendário escolar de uma ação que vislumbre a dimensão sócio-educativa, pautada na ótica pedagógica e no apoio à saúde mental, disseminando informações e oferecendo caminhos para o foratelecimento psicológico do público alvo aredeescolar, no enfrentamento da pedofilia no Estado do Pará.
No mesmo sítio, João Salame participou de reuniões na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que apura denúncias de tráfico humano, no Pará, envolvendo principalmente jovens atletas, meninas serem prostitutas em bordéis de São Paulo, Guiana Francesa, Suriname e até mesmo na Europa; e travestis. Além disso, atendeu lideranças políticas de vários municípios, interessadas em constituir chapas para a disputa das eleições municipais do próximo ano. E ainda foi avistar-se com o secretário de Educação, Cláudio Ribeiro, para defender mais investimentos no setor em Marabá e regiões.
Nenhum desses compromissos foi tão mortificante para o deputado João Salame que o retorno da Seduc para o centro de Belém. A Seduc está localizada à rodovia Augusto Montenegro, próximo a Icoaraci. O transito naquela artéria estava infernal, já no início de noite. Parecia que todos resolveram sair ou voltar para casa naquele momento.
Mas todas essas vicissitudes foram compensadas pelo resultado da palestra que proferiu na FAP, especialmente porque o público, inicialmente hostil, por ser passionalmente contra a criação de Carajás e Tapajós, saiu mais esclarecido sobre as vantagens econômicas e políticas para as três novas unidades federativas. Todos pareciam satisfeitos e empolgados com o domínio da questão exibido por João Salame em mais de duas horas de explanação.
O deputado João Salame compareceu à FAP munido de farta documentação que demonstra a viabilidade dos novos estados. Disse claramente que o Novo Pará ( hoje sem capacidade nenhuma de investimento nos setores essenciais como educação, saúde e segurança) vai ter mais recursos para enfrentar os seus desafios. “Quando o céu é de brigadeiro, o Pará tem só R$ 300 milhões para investir. Este ano, em conseqüência da administração anterior, esses recursos são de apenas r$ 170 milhões. Mesmo que o governador queira, não tem como atender os clamores das população do Sul, Sudeste e Oeste do Pará”, afirmou. Segundo ele, a capacidade de investimento do Novo Pará será, no mínimo,três vezes maior que a atual, embora aparentemente sofra uma redução no repasse do Fundo de Participação dos Estados (FPE). Mas, a região ganha, passando dos atuais 10% para 15%, hipoteticamente porque o ganho pode ser maior.
João Salame demonstrou, com tabelas produzidas pela Secretaria da Fazenda (Sefa) e usadas pelo Idesp (Instituto de Desenvolvimento Econômico-Social do Pará) em um estudo realizado a pedido do governador Simão Jatene sobre a viabilidade dos novo Estados, que todos os municípios do Novo Pará vão praticamente dobrar os valores que recebem atualmente do repasses de ICMS (Impostos Sobre Mercadorias e Serviços). “O governo do Estado terá também mais dinheiro para investir num território bem menor, equivalente a 17% do atual, em 78 municípios, que já contam, principalmente esses da Região metropolitana, com uma razoável infraestrutura.
João Salame também mostrou que o Pará tem oito entre os 30 municípios mais violentos do Brasil, sendo o líder do triste ranking, Itupiranga, próximo a Marabá. Mostrou ainda que todos os estados criados recentemente apresentam IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) maior que o Pará, exceto Roraima (18º lugar), um posto abaixo do Pará. Mas, Amapá, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Goiás, Rondônia estão melhores que o Pará, embora não sejam nenhum paraíso, porque continuam pobre, porém com mais presença do Estado.
- Quando eu morava em Goiânia (GO), a região do Bico do Papagaio era a mais violenta do Estado: matavam padres, sindicalistas, posseiros. Criaram o Estado do Tocantins e essa violência, se não acabou, diminuiu drasticamente. Não só pela presença da polícia, da defensoria pública, dos juízes de direito, como também pela instalação de universidades, Atualmente, o Tocantins tem 20 mil universitário. Ante, havia nenhum. São seis mil quilômetros de rodovias, contra 200quiulômetros daquela época. Perguntem se o povo de Tocantins quer voltar a ser Goiás, ou se o povo de Goiás quer reincorporar Tocantins. Não, porque ambos aprenderam que a divisão foi melhor para todo mundo. Assim é no Amapá. O Estado é pobre, mas não quer voltar a ser Pará de jeito nenhum”.
Para combater o xenofobismo, muito presente nos argumentos daqueles que julgam que a proposta para a criação de Carajás - e Tapajós – é coisa de forasteiros e aventureiros que vieram para o Pará e, agora, querem se apropriar de uma parte do seu território, João Salame disse que é paraense, sua família toda é paraense, e que ninguém precisa falar árabe para defender a criação de um território livre para o estado palestino, povo historicamente massacrado. Também lembrou que a independência do Brasil foi feita por um português, D. Pedro. E que o melhor prefeito de Belém em todos os tempos foi o maranhense, Antônio Lemos.
O deputado respondeu a perguntas dos presentes e disse que defende Carajás como possibilidade de desenvolvimento regional, e que,hoje, se tivesse que escolher sobre a criação de apenas um estado, optaria por Tapajós, que é mais sofrido ainda que Carajás. Mas, em sua opinião, a melhor divisão seria por três, incluindo desdelogo, o Estado do Xingu, cuja principal cidade, Altamira fica tão longe de Santarém, provável capital do Tapajós, quanto de Belém, capital do Pará e que deve continuar com esse status na hipótese de se criar dois novos estados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário