No próximo dia 1º, o presidente, João Salame Neto (PPS), e o relator, Carlos Bordalo (PT), da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), instalada na Assembléia Legislativa para investigar o tráfico humano, vai ao município de Praia Grande, no litoral paulista, a fim de ouvir o procurador da infância e juventude, Carlos Cabral Cabrera, que está cuidando de um caso típico de tráfico humano, envolvendo atletas juvenis do Pará, que foram levados para a Portuguesa Santista e acabaram abandonados à própria sorte.
A decisão de ir a São Paulo foi tomada na quarta-feira passada, depois que a CPI do Tráfico Humano tomou o depoimento do presidente da Federação Paraense de Futebol e do diretor das Divisões de Base do
Paysandu, Carlos Alberto Mancha. Ambos admitiram a existência do tráfico humano no futebol paraense e se colocaram à disposição da CPI para colaborar.
João Salame considerou muito produtivo os depoimentos. Nunes confirmou ter conhecimento da existência de um intenso comercio paralelo de atletas amadores de futebol, principalmente nas regiões sul, sudeste e oeste do Pará, e observou que a FPF nada pode fazer porque, em geral, os atletas não são federados. Segundo ele, os meninos estão espalhados em várias escolinhas de futebol particulares e, ao serem revelados como futuros craques, são observados por “olheiros” dos grandes clubes do Sul e Sudeste do Brasil e levados embora, com o consentimento dos pais. Nos clubes tradicionais, como Remo e Paysandu, de acordo com Nunes, é mais difícil de o atleta ser levado, porque há mais fiscalização dos dirigentes. Mesmo assim, há
casos registrados de jogadores até famosos, como Paulo Henrique Ganso, Santos FC, que são aliciados e os clubes que os revelaram e investiram na sua formação técnica e física acabam prejudicados, pois não ganham
nada com isso.
O presidente da FPF também disse ter conhecimento pela imprensa da situação em que ficaram os quatro meninos do Pará levados para a Portuguesa Santista, e que foram encontrados em situação degradante, num casa coletiva com mais cinco rapazes igualmente aliciados em outros estados.
Nunes reconheceu vários nomes de supostos empresários de jogadores citados pelo secretário da CPI, Carlos Bordalo. Porém, disse que eles agem com a anuência dos pais, este na expectativa de ver os filhos se
tornar ricos e famosos, como Ronaldo “Fenômeno” Nazário, Ronaldinho Gaúcho, Paulo Henrique Ganso e Neymar, por exemplo. Muitos acabam abandonados à própria sorte quando não confirmam o “talento” que o “olheiro” viu neles.
De acordo com Nunes, já é possível, com a nova Lei Pelé, sancionada pela presidente Dilma Rousseff, em março passado, controlar mais essa prática. Isto porque surgiu, com a nova versão da lei, a figura do clube formador. Com isso, nenhuma transação nacional ou internacional de futuros jogadores poderá ser feita perante a CBF.
O depoimento de Carlos Alberto Mancha foi também rico em detalhes e proposições, no sentido de ajudar a combater esse tráfico de pessoas. Por sua indicação, a CPI vai ouvir um do Paysandu, que passou por essa experiência desagradável e humilhante. Mancha pediu apoio dos deputados no sentido de fortalecer as divisões de bases dos clubes profissionais, mediante a criação de instrumentos que resultem mais investimentos nos futuros atletas. Uma idéia que chegou a ser ventilada seria um acordo ou lei para que parte dos recursos que o governo do Estado repassa aos clubes do Campeonato Paraense de Futebol fosse destinada às divisões de base.
Como os membros da CPI – ainda estava presente o deputado Edmilson Rodrigues (Psol) – a chegaram à conclusão de que o Pará é o maior fornecer de jogadores, prostitutas e travestis para uma verdadeira rede de tráfico humano, que movimenta milhões de dólares, e que São Paulo é o Estado que mais recebe essas vítimas, foi decidido que os parlamentares vão a São Paulo, conhecer in loco a realidade de quem foi levado paras lá, e também para ouvir o Procurador Carlos Cabral Cabrera.
Além disso, por sugestão de João Salame, a Assembléia Legislativa do Pará deverá promover um seminário sobre a Lei Pelé, com a participação do Ministério dos Esportes e dirigentes esportivos, para que fique mais esclarecida a questão da compra a venda de jogadores mirins.
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