Se tivessem instalado, nesta segunda-feira 5, um ‘palmômetro’ no auditório das Faculdades Ypiranga, em São Brás, certamente a aferição teria dado ampla vantagem ao deputado João Salame Neto (PPS). Ele foi à instituição, no começo da noite, para um debate com seu colega Celso Sabino (PR), acerca da criação dos estados de Carajás e Tapajós. Mas, por pouco, não protagonizou um monólogo, ante a falta de argumentação mais acurada do outro debatedor.
Mas, mesmo esse equipamento, muito usado nos programas de auditório, apropriado para aferir o grau de satisfação de uma platéia com determinado assunto, a estudantada claro ficou, principalmente ao término do debate, que João Salame seria o franco vencedor se a intensidade dos aplausos tivesse sido medida. Ademais, Salame se mostrou mais convincente e objetivo em suas argumentações; Sabino, sem ser agressivo ou chulo, tentou desqualificar os dados exibidos por João Salame - frutos da sua experiência pessoal no Tocantins, que em 1988, por força da Constituição Cidadã, de Ulysses Guimarães, foi criado junto com o Amapá e Roraima, sendo que estes dois eram antigos territórios federais, desde 1950; e com base em estudos sócio-econômicos, elaborados pelo economista Célio Castro, a Universidade Federal de Brasília (UnB), que estava presente ao debate, pronto para ser acionado casos houvesse necessidade de mais minúcias relativas à viabilidade econômica das novas unidades federativa.
Uma prova dessa capacidade de fundamentar melhor seus postulados a favor da redivisão territorial do Pará, é que o deputado João Salame conseguiu, inclusive, adesões de estudantes e professores ao seu partido, o PPS, além de inverter a tendência de alguns de votarem “NÃO”, no plebiscito, marcado para 11 de dezembro próximo. Não que tivesse ido ali com essa finalidade, mas porque inspirou seriedade na sua argumentação. Depois do debate, Salame ainda ficou por quase duas horas dando entrevistas a alunos de Comunicação da Ypiranga ou atendendo a professores de várias áreas e seus estudantes, que queriam mais informações sobre Carajás e Tapajós, para melhor formulação de suas idéias acerca do assunto. Mas até que era, inicialmente, absolutamente contra, voltou para casa no mínimo com mais tolerância para debater uma questão tão relevante para a Amazônia.
“Os dois parlamentares deram ótimas contribuições para que possamos, a partir de agora, estabelecer melhor juízo sobre a redivisão do Pará. Mas me impressionou muito a profundidade com que o deputado Salame trata deste tema”, assinalou um estudante que atuou como porta-voz de seus colegas.
“Fiquei muito gratificado com o grau de interesse dos estudantes e dos professores pelo debate, pois demonstra que há uma insatisfação com os dados que estão chegando até eles, via grande imprensa, toda ela interessa em manter essas oligarquias bem atrasadas no controle da situação”, disse João Salame.
“Acho que vocês estão diante de uma oportunidade ímpar, de dar uma demonstração de amor pela Amazônia, ao permitir que se redefina os contornos territoriais da mais importante região brasileira do ponto de vista econômico. Se perdermos essa chance, dentro de cem anos não haverá outra”, exortou o economista Célio de Castro, igualmente assediado por estudantes, ávido por explicações confiáveis acerca das novas unidade federativas propostas.
Perguntas e respostas
Salame poderia ter ficado a falar com os estudantes por muito mais tempo, mas, elegantemente, preferiu encerrar a exposição de seu pensamento quando Sabino anunciou que teria que se retirar para ir a um programa de televisão. Os dois foram convidados ao debate pelo professores Henrique Branco. A jornalista Michelly Murchio foi a apresentadora. Professores das Faculdades Ypiranga, como Yuri Vidal, que também participariam de um bloco nem foram chamados ante a desistência de Sabino em continuar o debate.
Por sorteio, Salame teve 10 minutos para expor as suas razões; mesmo tempo concedido, a seguir, a Sabino. Ele rechaçou de pronto a tese segundo a qual quem tem interesse em redividir o Pará são fazendeiros, latifundiários e grileiros.
“Eles é que não devem querer mesmo que se crie novos estados, porque garantem a impunidade aos seus crimes. O Estado que queremos é para atender os povo mais pobre.Territorialmente, hoje, somos maior que São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro juntos, mas com um povo historicamente carente. A grande questão é: nossas regiões terão condições de sair dessa situação sem a redivisão? O Pará ganha com isso? A rigor não se deve ser contra que alguém melhore de vida. E é isso que estamos querendo para essas regiões. Todas as regiões, a começar pelo Paraná, que foi desmembrado de São Paulo no Século XIX, melhoraram muito, se desenvolveram, Temos o exemplo de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul; o de Goiás e Tocantins. O do Amapá, que antes era Pará. Perguntem se alguns desses estados querem voltar à condição anterior. Caro que não. Mesmo sendo alguns deles ainda pobres, como é o caso do Amapá, a população local vive melhor do que antes. Macapá atende a vários municípios da ilha do Marajó que não tem recursos para saúde, educação etc. A presença do governo é maior, há mais recursos federais apara obras de infra-estrutura. O governo fica mais perto do cidadão. Hoje, o governo do Pará, mesmo dispondo de várias aeronaves não consegue percorrer todo estado em quatro anos. A França, que é do tamanho de Mato Grosso, tem 20 mil municípios; o Brasil tem pouco mais de cinco mim. Isso também implica em mais poder político para região. Vamos ter nove ao invés de três senadores. A Amazônia terá 27, igualando-se ao Nordeste. Isso cria reação contra os novos estados. O Sul e Sudeste do Brasil não querem isso, porque vão perder dinheiro. A Amazônia vai ganhar. O Pará terá mais recursos para investir no território remanescente”, declarou Salame.
O deputado também falou da criação de melhor infraestrutura. Tocantins, que se apartou de Goiás, tinha 200 quilômetros de estradas pavimentadas. Hoje, tem seis mil quilômetros; não tinha nenhum estudante universitário, hoje tem 20 mil. Tem mais policiamento. Bico do Papagaio, que chegou a ser considerada a região mais violenta do Brasil, por conta do assassinato de líderes religiosos, sindicalistas e posseiros, com no novo Estado saiu do noticiário nacional, porque a O Estado se apresentou.
Salame disse ainda que vão ser gerados milhares de empregos que serão preenchidos por estudantes da região metropolitana de Belém, que estarão se formando à altura; e que haverá uma intensificação do comércio na suas fronteiras que se abrem. Empresas paraenses é que vão construir prédios e palácios que os novos estados precisarem. “Não haverá um muro, barranco a circulação de pessoas e mercadorias. Então, todos saem ganhando...”
João Salame ainda explicou como serão feitas as transferências de recursos federais e a arrecadação própria de cada unidade. O Pará remanescente ficará com cerca de 75% do seu PIB atual para investir em área menor; ficará com dois portos – Vila do Conde (Barcarena) e Espadarte (Curuçá), jazidas de minérios e o petróleo de Salinas, cujas prospecções são bastante alvissareiras, por se encontra numa camada acima do pré-sal. Segundo ele, o governador Jatene está empolgado com as perspectivas. Outra tecla que ele bateu bastante foi quanto a falácia de que o Pará vai perder as jazidas do sul, sudeste e oeste, com a criação de Carajás e Tapajós, além das usinas hidrelétricas- Tucurí e Belo Monte. “Temos a segunda maior hidrelétrica do país e uma das maiores do mundo, em Tucuruí, mas falta energia na casa do caboclo que vive sob o linhão, porque Tucuruí não foi feita para abastecer os mais pobres, mas os mais ricos, como sabemos e ainda subsidiados; temos as maiores minas de minérios do mundo, mas o que fica para nós, paraenses? Apenas os problemas sociais causados por minerados como a Vale do Rio do Doce, que paga menos imposto que uma rede de supermecado. Se minério fosse sinônimo de riqueza, a África seria o continente mais rico do mundo, e o Japão, que não tem nenhum mineral, seria o país mais pobre do mundo. É que o minério pertence a União, não ao Estado. Além disso, temos essa famigerada Lei Kandir, que desonera as exportações e faz com que o Pará deixe de arrecadar milhões que poderia ser usados para melhorar as condições de vida no Pará, onde crianças morrem sem um berço neo-natal.
Salame também esclareceu que o ICMS da energia elétrica é paga ao estado consumidor, não ao gerador.
Depois, o deputado João Salame respondeu a perguntas de estudantes e professores, se comprometendo a voltar sempre que for chamado ao debate.
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